segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Caminho de Volta


Quando eu estive em BH em dezembro e janeiro deste ano, na sala de embarque do aeroporto internacional de Confins eu escrevi um email para uma pessoa muito especial. Nesse email eu falava que meu caminho de volta ao Brasil já havia começado, eu sentia mesmo que parte de mim já tinha voltado. Agora o tempo passa e a cada dia estou mais perto de voltar ao meu país.

Já disse em meio a esses escritos que muitas coisas boas têm acontecido para mim aqui. Minha carreira tem crescido significativamente e por isso tudo sínto-me muito grato. Mas nem tudo é carreira, e também como disse antes não me apego mais a tantas ilusões. Sucesso por sucesso posso alcançar muito no Brasil, e no Brasil tenho muitas coisas muito preciosas que nunca terei em outras partes do mundo.

Tenho muita saudades da época que dei aulas na UEMG. Eu adorava meus alunos! Em dezembro um dos coordenadores perguntou se eu poderia começar a dar aulas lá denovo em agosto desse ano, e eu disse que não tinha como, pois estaria ainda no meio do meu Doutorado. Mas em fevereiro eu poderia estar de volta para começar as aulas. Voltar a dar aulas na UEMG está nos meus planos. Muita coisa ainda está por acontecer, mas no que diz respeito ao meu desejo posso dizer que dia 17 de dezembro já estarei de volta ao Brasil e em fevereiro estarei dando aulas novamente.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Friends for life


I was with very good friends minutes ago. I've just gotten back from "The Chimes" one of the best bars in Baton Rouge, which is quite close to the School of Music (could it be any better?). There was Raul, from Costa Rica; Jessica from New Orleans (this is more than simply being from United States); Marcelo and Amanda, from Brazil; Paris from Greece; and me, also from Brazil.

I was very happy because Raul called me asking me to come to be with them. They were coming from a Jazz concert in which Marcelo played. As usual I ended up talking to Jessica about deep and interesting things in life. She is amazing! Very very inteligent, smart, and very sensitive. She just graduated from Law school here at Louisiana State University and now she has to take the unforgiving BAR exams! The bar exams are similar to the exam from the Ordem dos Advogados do Brasil. Without passing in this exam she cannot be a lawyer. She looks very apprehensive about it, but in the same time she was saying that she is not studying as much as she would like to, she also said that this is just natural on her behavior. She does not consider herself as a "good student." That sounded like joke for me, because she graduate from law school with omnia cum lauda, which means she is freacking great student, although she does not spend hours and hours studying.

I think I do my studies in a quite similar way and we spent some time tonight talking about these similarities. I will have pretty soon my General Exams, which are the most important exams in a Ph. D. degree. We don't have anything similar in Brazil. I refuse to spend much time studying for this exam, because I think I already know what I know, and I am not going to learn much in two months of concentrated studies. It would be just useless I think. But I still feel guilty, but it is just me. I am like that.

I've ended up talking to her about the post-modernity and the concept of deconstruction. To make a long story short, I've told her that if every single thing can be deconstructed it means that everything was once constructed, in other words: everything is sort of an ilusion, and we cannot let ilusions take control of our beings. Dont take life too seriously. I am trying not to.

Jessica I love you! You are a great friend and I wish you the best results on your BAR exams!

Opus 9


Hoje eu tive aula com o Dinos, meu professor grego turrão. Eu acho muito difícil ter uma opinião definitiva a respeito do Dinos, pois ele consegue ser em diferentes momentos incrivelmente duro e aparentemente injusto e excessivo, e em outros muito doce e preocupado com o bem estar das pessoas que estão à sua volta. Ele é um personagem! Isso ninguém pode negar. A começar pelo péssimo inglês que ele fala. É impressionante! Ele dá aulas na Louisiana State University há 42 anos, mas até hoje ele não fala inglês corretamente.

Eu sou aficcionado com a obra do escritor francês Honoré de Balzac, que entre outras coisas boas da literatura, me foi apresentado pelo Loque Arcanjo. Um dos livros mais famosos escritos por Balzac, ao lado de A mulher de trinta anos, é um romance muito compácto chamado Eugene Grandet. Eugene é filha de um senhor que fabrica tonéis de vinho, o Senhor Grandet. Senhor Grandet finge que é gago, pois dessa forma ele consegue tirar várias vantagens de seus clientes, pois todos se inpacientam ao ouvi-lo falar e acabam aceitando negócios antes de ouvir toda a história. Senhor Grandet também negava ter dito certas coisas dando como desculpa "Você não entendeu o que eu disse no outro dia." Eu acho que o inglês mal falado de meu querido professor Dinos Constantinides é também uma forma de controle. Ele escreve em inglês perfeitamente, impecavelmente, e às vezes ele fala inglês melhor do que em outros momentos. A coisa é que ele se esforça mais para ser compreendido em alguns momentos mais que em outros. Assim ele já fez comigo várias vezes. Em outro momentos irei escrever uma entrada sobre o Dinos, e eu acredito que vou escrever com meu amigo Liduíno Pitombeira, para mim o maior compositor brasileiro da atualidade, um livro sobre o Dinos. Muitas piadas divertidas podem vir daí!

Desde o início do ano estou trabalhando em meu Opus 9. Nesse opus estou compondo várias peças para instrumento solo entre outras peças para violão e outros instrumentos. As peças solo são baseadas nas Três Peças para Clarinete Solo de Igor Stravinsky. Eu compus Four pieces for Solo Clarinete op. 9, no. 4; Four Pieces for Solo Bassoon, op. 9 no. 5; e agora eu estou trabalhando nas Five Pieces for Solo Flute, op. 9, no.6. Stravinsky é o compositor que mais influenciou minha música, e nessas peças para instrumentos solo eu tenho usado, além das técnicas comunmente usadas pelo Stravinsky, técnicas serias, e modulações métricas como o Eliot Carter usa. Ao mesmo tempo essas peças tem um carácter expressionista forte. Os títulos das peças são sempre relacionados com emoções e situações das quais eu já vivi ou já fantasiei, de modo que essas peças também são uma expressão subjetiva de minha história de vida e também de coisas que temho trabalhado em psicanálise.

A primeira peça desse opus foi o Romance for Viola and Classical Guitar, op. 9, no. 1. Essa peça eu fiz para minha querida Ana. Ela é cheia de paixão, sensualidade e um pouco de dor. É complexa, densa em alguns momentos, mas extremamente lírica e sensual em outros. Essa riqueza me agrada. Outra peça que faz parte desse opus é a After the Hurricane, or Texas Hold'em, op. 9, no. 2a. Essa peça é para violão e trombone baixo. Eu a escrevi para o meu amigo trombonista Roy Gonzalez, da Costa Rica. Quando o furacão Gustav destruiu parte de Baton Rouge, Roy e Raul vieram passar uns tempos na minha casa e nesse dias ficamos bebendo e jogando poker Texas Hold'em. Apesar da destruição causada pelo furacão, foram dias divertido, memoráveis.

Para terminar esse opus eu tenho que terminar essas peças para flauta, uma série de peças para violão solo e alguns duos para violino e violão. Enquanto isso também estou trabalhando em meu Concerto para Violão e orquestra, op. 11, e na tese sobre a Louisiana Sinfonietta. Muita coisa!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

As Náuseas


Muitas conversas minhas, tanto com o Loque quanto com a Luciana, foram a respeito de como as coisas em geral eram vistas na pós-modernidade. Na verdade com o Loque conversamos muito se a pós-modernidade existia mesmo, e com a Luciana falávamos sobre como ficava a condição da Antropologia em um mundo "pós-moderno." Eu não tenho conhecimento suficiente, e específico suficiente para discutir a pós-modernidade. Não sei dizer com clareza o que é, se existe ou não, mas sei que um conceito que é pós-moderno e que tem me feito pensar muito a respeito de minha inserção no mundo é a idéia de desconstrução.

O Loque me fala muito que a História Cultural geralmente busca desconstruir determinados conceitos, ideologias, figuras históricas, etc, para poder enxergar com mais clareza, para se poder construir um novo discurso sobre o objeto histórico em questão. Loque fez um trabalho de grande peso seguindo esse caminho com a figura de Heitor Villa-Lobos. Em seu livro O Ritmo da Mistura e o Compasso da História Loque desconstroi com habilidade muito do que foi dito sobre Villa-Lobos e oferece uma interpretação bem diferente das corriqueiras sobre a obra de Villa-Lobos e seu lugar na cultura brasileira.

Vejo também que a Antropologia acaba trabalhando muito com a idéia de desconstrução. Sim, pois, ao se contemplar a imensa diversidade de escolhas que se fazem possíveis dentro das inúmeras culturas que são diversas da nossa, a idéia de "absoluto" de "verdadeiro" fica difícil de ser sustentada. Então fica-se a um passo de se questionar os valores mais profundos, mais intocados.

Também lembro da psicanálise que acaba por ser um meio de se desconstruir a si mesmo para entender onde estão as rachaduras, para depois, eventualmente, superar-se os traumas. Eu, que alguma coisa estudei de filosofia, questionei toda a fé que eu tinha e acabei virando ateu. Desconstrui meu "deus" e acabei ficando sem ele.

Acho que existem vários caminhos diferentes: ciência, arte, fiolosifia, religião, mas ao longo do caminho acaba-se por perceber que quase tudo que vivemos é de alguma forma construído culturalmente. E aceitar-se isso significa dizer que tudo pode ser desconstruído. À partir daí dizer que tudo é uma grande ilusão, que tudo é fabricado, fica fácil. Mas o que fazer com essa constatação?

Quando penso muito nessas coisas sinto uma náusea existencial parecida com aquela que o Antoine Roquentin sente ao jogar a pedra no rio. Sim, estou falando do historiador personagem principal de uma das obras primas de Sartre, o romance A Nausea. Porém a náusea que eu sinto vem de vários lados, ou na verdade eu acho que são diferentes náuseas existencias que me aparecem ao mesmo tempo. Como disse anteriormente tenho estudado alguma coisa de física quantica e sobre as teorias mais atuais sobre o universo. Tudo faz muito sentido, mas quando leio sobre como as partículas infinitesimais que formam um átomo se interagem de forma tão "perfeita" tão simétrica isso me dá também uma sensação de náusea por não sei qual o motivo.
Pensar que o universo era todo tão compacto quanto um eléctron, e com massa e gravidade infinitas, e que depois da suposta grande explosão, o Big Bang, as quatro forças que regem o universo (Gravidade, Eletro-Magnetismo, Nuclear Forte e Nuclear Fraca) se organizaram e então que tudo que é se formou e tudo o que até hoje existe se tornou possível... pensar isso tudo deixa minha alma em meio a um turbilhão de sensações. Acho que essa organização tão perfeita do universo é muito antagônica à desorganização que eu vejo na interação entre as pessoas no mundo e na relação das pessoas consigo mesmas. Tudo deveria fazer muito sentido, mas vejo que mesmo Einstein, com todas as suas idéias revolucionárias, pode ser desconstruído.

A idéia de que nada faz sentido é (pelo menos eu acho) já aceita. A questão é como dar sentido às coisas e aceitar que o sentido que damos é tudo o que temos. Se eu desconstruir completamente o que eu sou, e todas as escolhas que eu fiz o que me resta é escolher quem eu quero ser, o que eu quero fazer, que ilusão que eu quero alimentar. Depois de decidir isso acho que o que resta é seguir.

Isso pode significar desespero em um primeiro momento, mas depois pode ser muito libertador. Depois de me questionar "Por que é que eu faço isso e não aquilo?" acho que vou moldar a minha própria ilusão de modo que os objetivos que eu busco sejam mais alcançáveis e também de modo que a vida que eu projeto para mim seja mais permeada de pessoas do que de coisas.

Eu me interesso muito pela filosofia de Wittgenstein por ser uma lógica que se transforma em ética, e por ser uma filosofia que tenta contemplar os limites da filosofia e da linguagem abrindo caminho para a vivência do místico. Pensei em fechar esse escrito falando um pouco das coisas que pensei por meio dele, mas ele mesmo fecha seu livro Tractatus Logico-Philosophicus com um aforisma que me desencoraja a fazer isso. Eu recomendo a você, caro leitor, que leia, e leia várias vezes e tente entender esse livro. Mas vai lá o aforisma: Sobre aquilo sobre o que não se pode falar, deve-se calar.


Eu me calo.

domingo, 14 de junho de 2009

O semestre começa amanhã


No sistema educacional americano o ano letivo começa na terceira semana de agosto, (em geral por volta do dia 23) e termina no início de maio do ano seguinte. O "semestre" que vai de agosto até início de desembro eles chamam aqui de "Fall Semester" por que o outono é a estação do ano na qual a maior parte do semestre acontece. O "semestre" que começa em meados de janeiro, por volta do dia 15, eles chamam de "Spring Semester" pelo fato da primavera ser a estação do ano na qual a maior parte do semestre acontece. Depois disso os alunos entram de férias e só voltam em agosto.

Entre esses dois semestrer existe um "semestre" (sempre escrevo entre aspas pois nenhum desses períodos tem de fato seis meses, mas mesmo assim são aqui chamados semestres) intensivo de dois meses que acontece no verão e que é chamado de "Summer Semester." Eu geralmente dou aulas no Summer. Nesse Summer, além das aulas de violão que estou dando na Louisiana State University eu também estou cursando Composição, Tese, e História da Música no Romantismo.

Minhas aulas de composição começam amanhã e nesse semestre vou compor uma Serenata para Violão e Orquestra de Cordas que será estreiada pela Louisiana Sinfonieta em 13 de dezembro deste ano. Estou animado, pois vai ser mais uma vez que irei me apresentar como solista frente a orquestra aqui, e será a primeira vez que estarei tocando uma peça minha para violão e orquestra.

Uma boa notícia que recebi hoje foi a confirmação de que irei tocar o Concierto de Aranjuez com um novo grupo orquestral da Louisiana State University. O nome do grupo é LSU Chamber Music Society. Esse grupo é regido pelo violinista e maestro Raul Gomez, meu grande amigo aqui, e um dos melhores violinistas que eu já vi na minha vida. Raul é o violinista na foto tocando comigo. Esse vai ser o primeiro concerto do LSU Chamber Music Society. (LSU é a abreviação de Louisiana State University. Os americanos se comunicam usando siglas o tempo todo, não gostam de "perder tempo" falando um nome grande que todo mundo aqui conhece). Agora vou me dedicar a estudar esse concerto para tocá-lo mais uma vez. A primeira vez que o toquei foi em 2000 com a Orquestra Sinfônica da UFMG sob a regência do maestro Sílvio Viégas. Luciana fez as fotos, tem uma super bonita, que infelizmente não tenho como postar pois está no Brasil.

Esses últimos dias estive estudando a Chaconne da partita no. 2 em ré menor de Bach. Toquei essa peça várias vezes, mas eu senti que eu era muito jovem para tocá-la bem de fato. Agora estou voltando a estudá-la e quero dar um recital onde vou tocá-la como última peça do repertório.

Acho que isso tudo que eu disse acima trata muito de uma reaproximação minha em direção ao violão. Tenho tocado muito aqui. Sempre toco muito bem, mas nunca dei meu máximo. Na verdade falta tempo para isso. Mas para tocar o Concierto de Aranjuez não tem como ser "mais ou menos." O Concierto de Aranjuez é o concerto mais difícil para violão e orquestra de que tenho notícia, e a Chaconne, junto com a Sonata para Violão do Ginastera (que eu não toco) é sem dúvida uma das peças mais difíceis e mais cultuadas do repertório do violão. Encarar essas peças significa dedicar várias horas de estudo do instrumento diariamente.

Agora vou voltar à minha composição.

P.S. Estou pensando sobre uma outra postagem que devo fazer em breve, algo que é bem difícil de verbalizar, mas que sempre volta a me visitar os pensamentos. Cheguei a falar sobre isso com algumas pessoas. Ainda não consegui achar as palavras, mas eu as estou procurando.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Louisiana Sinfonietta


A Louisiana Sinfonietta é uma orquestra de câmara profissional que atua em Baton Rouge. Ela é regida e dirigida pelo meu professor de composição, grego (quem conhece algum grego vai entender o porque da distinção), Dinos Constantinides. Desde minha chegada à Baton Rouge a Louisiana Sinfonietta me deu muitas e muitas oportunidades para me apresentar como violonista, tanto em recitais solo, recitais de câmara, também como solista frente a orquestra, o que é algo que eu jamais havia sonhado possível quando eu vivia no Brasil.

Desde minha chegada aqui eu já toquei três concertos diferentes para violão e orquestra com a Lousiana Sinfonietta. Todos eles foram gravados e com alguma frequência tocam no rádio aqui em Baton Rouge. Eu também toquei e gravei com a orquestra uma peça para violão, orquestra e narrador composta pelo Dinos. Essa peça foi lançada em CD aqui nos Estados Unidos e foi minha primeira gravação internacional lançada em CD comercial.

A Louisiana Sinfonieta é uma orquestra pequena, mas ela tem algo que sempre chamou minha atenção: Essa orquestra opera de modo muito diferente das demais orquestras que eu conheço. A começar pelo repertório. Aqui nos Estados Unidos o reperório que é tocado pelas orquestras geralmente vai das últimas sinfonias de Beethoven, mais a terceira - Eroica, até Mahler, incluindo algumas peças pós-românticas, como o concerto para violino de Sibelius. Em outras palavras, classicismo tardio até pós-romantismo. Já a Louisiana Sinfonietta toca muito repertório dos períodos barroco e clássico, as primeiras sinfonias de Beethoven, com exceção da Eroica, e daí pula-se para o repertório da música do século XX e música contemporânea.

Adorno diz no seu famoso artigo "O fetichismo na música e a regreção da audição" que é possível fazer boa música com um mal piano. De modo análogo é possível apresentar um concerto para instrumento solista e orquestra sem que se tenha um solista famoso. Isso é o que eu vejo acontecer com muita frequência nos concertos da Sinfonietta: Vários concertos barrocos, clássicos e contemporâneos tocados por solistas locais, professores da Louisiana State University (e nesse grupo eu estou incluído). A outra orquestra da cidade, a Baton Rouge Symphony Orquestra, teve como solista até mesmo o célebre e famosíssimo violinista Itzhak Perlman, tocando seu valiosíssimo Stradivárius (O que Adorno não diria disso?). Eu vejo que a Louisiana Sinfonietta tem um pé no chão da realidade e o resultado é excelente.

Uma outra coisa que eu acho fantástica é o fato da Sinfonietta se apresentar não apenas em salas de concerto convencionais. Sim, há anualmete uma temporada anual com cinco a sete concertos em salas de concerto da cidade, mas além disso a orquestra toca temporadas de concerto, especialmente durante o verão norte americano, em bibliotecas da cidade e de cidades vizinhas e também em escolas. Uma vez por ano Dinos Constantinides compõe uma peça que é uma história infantil para narrador e orquestra e leva a Sinfonietta para tocar em bibliotecas e escolas. Nessa época geralmente a orquestra apresenta cerca de doze vezes em duas semanas. Isso significa que às vezes a orquestra toca duas vezes no memso dia.

Desde que comecei a tocar com a Sinfonietta eu faço parte do grupo de músicos seletos que vai tocar nos concertos de bibliotecas e escolas. Essa semana eu toquei duas vezes na segunda, duas vezes na terça, duas vezes hoje, vou tocar duas vezes amanha e só na sexta eu irei tocar uma única vez. É pesado, trabalhoso, mas é muito gratificante e prazeroso fazer parte desse projeto e claro, é muito bom tocar repetidas vezes um concerto para violão e orquestra. Nessa temporada eu estou tocando com a Sinfonietta o concerto em lá maior para violão e orquestra de Ferdinando Carulli.

No dia 13 de dezembro vou estreiar uma peça minha para violão e orquestra com a Sinfonietta. A peça é uma Serenata para violão e cordas, e essa peça faz parte de um concerto para violão e orquestra que eu estou escrevendo como minha tese de doutorado em composição. O Dinos é uma pessoa que pode ser bem difícil de lidar às vezes, mas com tudo isso eu tenho que dizer que nunca ninguém me deu tantas oportunidades.

Com base em todas essas coisas o trabalho escrito de minha tese de doutorado será sobre a Louisiana Sinfonietta.

Site da Louisiana Sinfonietta

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Amigos do peito


É interessante, no mínimo interessante, como essa vida é repleta de paradoxos. Interpenetrações de conceitos contrários, de situações contrárias, de fenômenos que deveriam ser contrários. Um desses paradoxos aconteceu comigo claramente depois que eu vim morar nos Estados Unidos. Eu me descobri brasileiro aqui. Eu me defini pela diferença (lembro de minhas conversas com a Luciana). Eu aprendi um grande repertório de bossa nova aqui; eu estudei mais a fundo a técnica do bandolim para poder tocar choro e hoje tenho tocado bandolim profissionalmente; a primeira feijoada que eu fiz na vida foi aqui nos Estados Unidos assim como a primeira caipirinha. Na verdade as minhas caipirinhas são boas e famosas por aqui que eu acabei sendo coroado com o carinhoso nick name de Brazilian Devil. É isso mesmo, eu sou o Demônio Brasileiro. Esse nome me foi dado pelo Roy Gonzalez, trombonista da Costa Rica que várias e várias vezes ficou completamente feliz e embreagado tomando minhas caipirinhas.

Outro paradoxo: Sou solitário e festeiro. Despois que terminei com minha ex-namorada, que era um tanto anti-social, eu me senti mais livre para receber pessoas na minha casa, para celebrar a vida e aproveitar o pouco tempo livre para estar entre pessoas queridas. Nessas festas minhas caipirinhas, batidas, caipivódikas sempre fizeram e ainda fazem muito sucesso. Mas ainda com tanta celebração a minha essência pensativa, questionadora, solitária ainda prevalece e sem nenhuma dor eu digo isso. Solidão não tem de ser sempre algo doloroso. É como uma dose de insulina, depois de um certo tempo não dói, na verdade mesmo que doa passa-se a não se importar tanto com isso. Acostúma-se a tudo nessa vida.

Solidão é algo que me acompanha desde muito cedo. Sou o mais jovem de uma família de quatro irmãos e infelizmente (ou felizmente não sei), perdi minha mãe ainda muito jovem, e isso marcou a mim e a toda a minha família muito profundamente. Desde então me projeto no mundo como uma pessoa solitária. Às vezes, na verdade, sinto falta de estar só, comigo mesmo, com meus pensamentos. Gosto da pessoa que me tornei, e vejo que ter perdido minha mãe foi algo central na minha jornada até aqui, e por isso disse que talvez, no fim das contas, sua ausência não tenha sido tão ruim.

Um outro paradoxo é aquele que dá nome a este pequeno escrito. Além de solitário sou um homem de poucos amigos. Estou muito distante do Brasil. 10 horas de vôo... isso é muita coisa. Mas vejo que meu sentimento de amizade pelos meus seletos amigos cresce a cada dia. A saudade também. Ontem foi um dia mágico no que concerne às amizades. Falei com a Luciana, recebi um email do Marlon, conversei por telefone com o Loque e até mesmo recebi uma mensagem no orkut de meu mais velho amigo (não pela idade, mas pelo tempo de amizade) Hudson Luz! Fiquei muito surpreso e feliz ao ler suas palavras carinhosas. A distância física do Brasil me faz estar mais próximo de meus amigos. Assim como viver nos Estados Unidos me fez delimitar com mais clareza o que eu tenho de brasileiro em mim.

Não sei quando eu os verei denovo. Mas sei que os verei denovo.

domingo, 7 de junho de 2009

Da transitoriedade das coisas

Hoje fui me despedir de uma amiga francesa que está deixando a Louisiana indo de volta para casa. Se nome é Carine Trottin. Ela é mais uma pessoa que se vai. Aqui, na condição na qual estou, isso acaba se tornando algo comum, esperado. Muitos estudantes internacionais passam por aqui, vivem por anos e depois voltam para seus países. Tudo é transitório, tudo passa, ou tudo acaba passando mesmo que pareça tão certo, tão imutável, tão eterno.

Até mesmo o modo como nos vemos, o jeito como as pessoas nos chamam, ou se dirigem à sua ou minha pesso isso tudo muda com o tempo. Mas como tudo passa lentamente acabamos por ter a ilusão de que as coisas não mudam. Ilusão.

Tem uma passagem no poema de Álvaro de Campos que me chama mita atenção:
O poema é o Tabacaria:

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Acho que isso descreve bem um pouco do que sinto a respeito dessa transitoriedade inevitável das coisas na vida, dos seres no mundo. Não sem certa tristeza digo isso, mas tudo passa mesmo e isso pode ser esmagador. Parece bobagem, não é mesmo mesmo? Mas não é.

Boa viagem Carine! Te vejo na França, ou em qualquer outro lugar do mundo!

Mais um começo


Faz um tempo que moro nos Estados Unidos. Quase três anos. Estou terminando o meu Ph. D. em composição musical e regência orquestral. Sou brasileiro, mineiro, introspectivo, aberto (paradoxal) e tenho me transformado extremamente. Acho que me dobro para poder superar meus fantasmas e caminhar sempre, sem me queixar das coisas que não dependem de mim e também sem me sentir contente demais com as coisas que já conquistei.

Além de compositor sou violonista. Talvez poderia inverter e dizer que além de violonista sou compositor, mas isso eu mesmo não consigo dizer com certeza. A questão é que toco violão muito bem, na verdade uma das coisas centrais na minha vida é tocar violão. Na segunda, dia 8 de junho começo a dar aulas no Summer Semester, na Louisiana State University. Essa é a segunda maior universidade do sul dos Estados Unidos, e essa é a segunda vez que leciono esse curso aqui. Fui o primeiro professor de violão cássico nessa universidade, e isso conta muito para mim. Na semana que vem tocarei muitas e muitas vezes com a Louisiana Sinfonietta. Essa é uma orquesra local que é regida e dirigida pelo meu professor de composição, o Dr. Dinos Constantinides. Grego, turrão, difícil, 80 anos e com muita saúde. Ele é realmente difícil mas tem um coração enorme. Gosto muito dele.

Em janeiro eu devo estar de volta ao Brasil, mas eu mesmo não tenho certeza disso. Na verdade há tantas e tantas incertezas na vida que eu não me atrevo a dizer que estarei com certeza no Brasil. Muito pode acontecer. Algo que me dá muita felicidade e esperança é a chegada de minha namorada Ana. Ela vem me visitar aqui em Baton Rouge. Em pouco mas de um mês ela estará aqui.

Baton Rouge. Será que vc sabe onde fica essa cidade? E se eu falar New Orleans? New Orleans eu tenho certeza que vc já ouviu falar. Baton Rouge é a capital do Estado da Louisiana, e não New Orleans. Eu moro há cerca de 100 KM de New Orleans. Gostaria de poder ir lá com mais frequência, mas a carga de trabalho do Ph. D. mais o trabalho de dar aulas é grande, e quando eu tenho tempo eu às vezes prefiro ficar em casa lendo, ou assistindo filmes, mesmo que sejam ruims.

Hoje eu fiquei aqui me divertindo lendo um livro sobre física quântica. Parece loucura, mas eu me divirto muito estudando essas coisas. Estou super interessando na String Theory. Estou estudando para entender melhor o que essa teoria fala. Estou lendo três livros sobre o assunto no momento: The Elegant Universe: Superstrings, hidden dimensions, and the quest for the ultimate theory; esse livro é do Brian Greene. Outro que eu comecei a ler a introdução, mas resolvi deixar para depois do que citei primeiro é o The Trouble with Physics: The Rise of String Theory, the Fall of a Science, and What Comes Next. Esse livro é do Lee Smolin e é uma crítica à Superstring Theory, por isso estou lendo o livro que apresenta a Superstring Theory primeiro. Um outro livro que comprei essa semana e que estou lendo é o Physics of the Impossible do Michio Kaku. Esse é um livro mais pop, mas memso assim como introdução é interessante.

Estou ansioso para falar das milhões de coisas que quero falar mas primeiro tenho que publicar isso.

Interessante que hoje falando com minha querida amiga antropóloga Luciana França ela me falou "porque vc não escreve um blog? Seria legal para que as pessoas aqui pudessem saber o que vc tem feito por aí." Eu sempre relutei em escrever um blog, mas acho que vou acabar amando. Tenho muito o que dizer, e acho que isso vai me ajudar a me manter em contato com as pessoas no Brasil.

Agora vou formatar meu Blog.