domingo, 27 de setembro de 2009

Uma cerimônia, um ritual, algo inesquecível

No domingo, 27 de setembro eu toquei em uma cerimônia organizada pela Escola de Música da Louisiana State University em homenagem a uma secretária da escola que faleceu recentemente em um acidente trágico. Lynea Hambrice era desde agosto do ano passado a nova secretária da pós-graduação da escola. Ela tinha apenas 34 anos, mas em uma viegem de férias havia bebido demais e, segundo as informações, ela caiu do décimo segundo andar de um hotel aqui nos Estados Unidos. Os peritos dizem que não foi suicídio nem assassinato, pois não há indícios que ela tenha se jogado, ou que alguém a tenha jogado. É triste, mas parece que ela simplesmente caiu. A notícia de sua morte causou grande comoção na comunidade da escola que, por meio de sua có-diretora de pós-graduação, organizou uma cerimônia em memória de Lynea.

Os mais talentosos alunos da escola, o LSU Chamber Choir, e um grupo independente de cordas dirigido por Raul Gomez se revezaram na apresentação de várias peças musicais em homenagem à memória da jovem Lynea. Eu fui honrado com o convite de apresentar uma peça solo, assim eu pude contribuir também naquela cerimônia, que foi uma das mais belas e verdadeiras das quais eu já participei.

O formato da cerimônia foi o seguinte: Números musicais eram intercalados com leituras sobre a personalidade e sobre a vida de Lynea e não havia intervalo entre as peças e leituras o que fez com que a cerimônica corresse fluidamente e com muita força emocional. Algo que me chamou muita atenção foi o fato das pessoas não baterem palmas. Não era um concerto, era uma cerimônia, e mesmo que as pessoas achassem muito belo o que acabara de ser tocado elas não batiam palmas, e sim guardavam para sí a emoção que se acumulava.

O recital / cerimônia foi aberto pelo talentosíssimo violoncelista brasileiro Marcelo Martinez. Marcelo, no Brasil, tocou com nomes famosos da música pop, e por esse motivo, e não por seu admirável e raríssimo talento, ele era reconhecido no Brasil. De fato impressiona falar que Marcelo Martinez tocou com Sandi e Júnior no Acustico MTV e que viajou o Brasil e o mundo tocando com o grupo Fala Mansa, mas a habilidade que esse jovem instrumentista brasileiro tem em tocar o violoncelo e ao mesmo tempo cantar é sua mais importante qualidade justamente por ser a mais rara de se achar. Seu arranjos para Cello e Voz são de muito bom gosto e apresentam um nível de refinamento raro na música popular brasileira. Devido e isso, e também ao fado de Marcelo Martinez ser uma pessoa finíssima bem quisto por todos na escola de música ele foi o convidado a abrir a cerimônia. Após a apresentação de "A Rota do Indivíduo (ferrugem)," uma de minhas canções prediletas do Djavan, a platéia emocionada conteve suas palmas. O efeito de terminar uma performance e seguir em silêncio absoluto é algo muito profundo que deveria ser experimentado mais vezes. A apresentação de Marcelo Martinez foi o perfeito modo de abrir uma cerimônia como aquela e me fez pensar sobre a encomenda de uma peça que ele me fez. Depois da cerimônia comecei a compor uma séria de peças para Cello e Voz que irão contemplar o sentimento de sofrimento do espírito humano de várias formas diferentes. Será meu Op. 11, no. 1a.

Raul Gomez apresentou de Astor Piazzola "Libertango" com seu grupo de cordas. Raul Gomez, além de ser um virtuoso ao violino é também um regente talentoso e muito bom no trato com as pessoas. Ele é agora aluno do programa de doutorado em Regência Orquestral. No fim de "Libertango" há uma cadência extremamente difícil para violino solo que Raul executou com incrível perfeição e precisão. Belo, emocionante, tocante... Mais uma vez a platéia se deixou ficar silenciosa após a performance.

Muitas alunos se apresentaram e por volta do meio do concerto foi minha vez. Eu apresentei de Francisco Tárrega "Recuerdos de la Alhambra" que é uma das peças que mais bem ilustram o sentimento de perda e saudade de um lugar, ou um ente querido. Eu estava muito emocionado ao tocar e quase deixei rolar umas lágrimas durante a perfornance. Muitas pessoas, dias depois, me falaram que a performance foi muito bela, muito emocionante. Fiz uma gravação em vídeo que poderá ser acessada ao fim desse entrada no blog.

Ao fim da cerimônia, o coral de câmara da Louisiana State Univeristy rodeou a plateia e cantou uma peça belíssima. Ouvir o coral envolvendo a todos foi uma experiência indesritível. Rompi em lágrimas e me senti liberto. Foi lindo tudo o que aconteceu naquele domingo.

Posso dizer que poucos chefes de estado contaram com uma cerimônia tão bela. E o mais interessante que todos estavam lá voluntariamente para prestar sua homenagem e seu respeito à família de Lynea. Fiquei feliz e honrado de fazer parte disso.

Confira o vídeo de minha performance.




terça-feira, 22 de setembro de 2009

General Exams


Estive muito atarefado neste último mês. Muito foi devido ao fato de que eu estava me preparando para a fase mais difícil e estressante do programa de Ph. D. das universidades americanas: Os temidos General Exams. Mas o que são esses tais General Exams?

No programa de doutorado brasileiro os estudantes passam por três processos de seleção / avaliação. O primeiro é a prova e entrevista para admissão no programa de doutorado, o segundo é o exame de Qualificação no qual o aluno de doutorado defende seu projeto para uma banca com o intuito de reiterar que aquele projeto é legítmo, importante e viável. A última fase do doutorado brasileiro é a defesa da tese que é geralmente feita publicamente e para uma banca de cinco doutores.

No Programa de Doutorado Ph. D. americano são quatro os processos: 1) Seleção / Admissão; 2) Qualificação; 3) General Exams; e 4) Defesa.

No brasil os estudantes geralmente são requeridos a fazer cerca de 8 a 16 créditos em disciplinas antes de se dedicarem ao trabalho de pesquisa propriamente dito. Aqui, em minha estada no Ph. D. eu já fiz 90 créditos em 3 anos. Essa imensa carga de disciplinas faz com que o aluno se intere profundamente nas discussões teóricas e que tenha domínio sobre diversos temas antes de se dedicar à escrita da tese. Depois que eu terminei todos os créditos requeridos para o Ph. D. eu tive que me prestar a uma série de provas que tem o intuito de verifivar se eu tenho total domínio teórioco das linhas de pesquisa mais relevantes à minha área de conentração, no caso Composição Musical e Regência Orquestral. Os General Exams são essas provas.

O formato é o seguinte: Três dias de prova escrita e um dia de prova oral! Absurdo de difícil! Nos dois primeiros dias as provas me questionaram sobre composição e literatura musical. Uma das questões foi: Discorra sobre a história do Quarteto de Cordas enquanto gênero musical desde sua origem até o presente. Para essa questão eu escrevi mais de vinte páginas e ainda fiquei pensando em escrever mais, mas tinha outras questões para responder. No último dia de prova escrita tive que responder sobre a história da regência orquestral e discorrer sobre os principais maestros do século XIX e XX.

A prova oral é muito interessante, pois é o aluno sendo arguido por uma banca de cinco Ph. D's sobre qualquer coisa relacionada ao conhecimento musical. Qualquer coisa. É um pouco assustador, mas foi muito bom o processo. Respondi a tudo e fui aprovado.

Agora tenho que me dedicar totalmente à pesquisa e concepção da minha tese. Despois dela terminada o que será que me espera?