segunda-feira, 8 de junho de 2009

Amigos do peito


É interessante, no mínimo interessante, como essa vida é repleta de paradoxos. Interpenetrações de conceitos contrários, de situações contrárias, de fenômenos que deveriam ser contrários. Um desses paradoxos aconteceu comigo claramente depois que eu vim morar nos Estados Unidos. Eu me descobri brasileiro aqui. Eu me defini pela diferença (lembro de minhas conversas com a Luciana). Eu aprendi um grande repertório de bossa nova aqui; eu estudei mais a fundo a técnica do bandolim para poder tocar choro e hoje tenho tocado bandolim profissionalmente; a primeira feijoada que eu fiz na vida foi aqui nos Estados Unidos assim como a primeira caipirinha. Na verdade as minhas caipirinhas são boas e famosas por aqui que eu acabei sendo coroado com o carinhoso nick name de Brazilian Devil. É isso mesmo, eu sou o Demônio Brasileiro. Esse nome me foi dado pelo Roy Gonzalez, trombonista da Costa Rica que várias e várias vezes ficou completamente feliz e embreagado tomando minhas caipirinhas.

Outro paradoxo: Sou solitário e festeiro. Despois que terminei com minha ex-namorada, que era um tanto anti-social, eu me senti mais livre para receber pessoas na minha casa, para celebrar a vida e aproveitar o pouco tempo livre para estar entre pessoas queridas. Nessas festas minhas caipirinhas, batidas, caipivódikas sempre fizeram e ainda fazem muito sucesso. Mas ainda com tanta celebração a minha essência pensativa, questionadora, solitária ainda prevalece e sem nenhuma dor eu digo isso. Solidão não tem de ser sempre algo doloroso. É como uma dose de insulina, depois de um certo tempo não dói, na verdade mesmo que doa passa-se a não se importar tanto com isso. Acostúma-se a tudo nessa vida.

Solidão é algo que me acompanha desde muito cedo. Sou o mais jovem de uma família de quatro irmãos e infelizmente (ou felizmente não sei), perdi minha mãe ainda muito jovem, e isso marcou a mim e a toda a minha família muito profundamente. Desde então me projeto no mundo como uma pessoa solitária. Às vezes, na verdade, sinto falta de estar só, comigo mesmo, com meus pensamentos. Gosto da pessoa que me tornei, e vejo que ter perdido minha mãe foi algo central na minha jornada até aqui, e por isso disse que talvez, no fim das contas, sua ausência não tenha sido tão ruim.

Um outro paradoxo é aquele que dá nome a este pequeno escrito. Além de solitário sou um homem de poucos amigos. Estou muito distante do Brasil. 10 horas de vôo... isso é muita coisa. Mas vejo que meu sentimento de amizade pelos meus seletos amigos cresce a cada dia. A saudade também. Ontem foi um dia mágico no que concerne às amizades. Falei com a Luciana, recebi um email do Marlon, conversei por telefone com o Loque e até mesmo recebi uma mensagem no orkut de meu mais velho amigo (não pela idade, mas pelo tempo de amizade) Hudson Luz! Fiquei muito surpreso e feliz ao ler suas palavras carinhosas. A distância física do Brasil me faz estar mais próximo de meus amigos. Assim como viver nos Estados Unidos me fez delimitar com mais clareza o que eu tenho de brasileiro em mim.

Não sei quando eu os verei denovo. Mas sei que os verei denovo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário