domingo, 7 de junho de 2009

Da transitoriedade das coisas

Hoje fui me despedir de uma amiga francesa que está deixando a Louisiana indo de volta para casa. Se nome é Carine Trottin. Ela é mais uma pessoa que se vai. Aqui, na condição na qual estou, isso acaba se tornando algo comum, esperado. Muitos estudantes internacionais passam por aqui, vivem por anos e depois voltam para seus países. Tudo é transitório, tudo passa, ou tudo acaba passando mesmo que pareça tão certo, tão imutável, tão eterno.

Até mesmo o modo como nos vemos, o jeito como as pessoas nos chamam, ou se dirigem à sua ou minha pesso isso tudo muda com o tempo. Mas como tudo passa lentamente acabamos por ter a ilusão de que as coisas não mudam. Ilusão.

Tem uma passagem no poema de Álvaro de Campos que me chama mita atenção:
O poema é o Tabacaria:

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Acho que isso descreve bem um pouco do que sinto a respeito dessa transitoriedade inevitável das coisas na vida, dos seres no mundo. Não sem certa tristeza digo isso, mas tudo passa mesmo e isso pode ser esmagador. Parece bobagem, não é mesmo mesmo? Mas não é.

Boa viagem Carine! Te vejo na França, ou em qualquer outro lugar do mundo!

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